A sociedade dos poetas de ônibus – viagens de ônibus que inspiraram gerações

Vivemos agora os tempos modernos, tempos em que os ônibus oferecem conforto e opções de entretenimento como wi-fi e filmes que até mesmo estão concorrendo ao Oscar. Mas, há poucas décadas isso já foi muito diferente e uma viagem de ônibus podia ser muito entendiante – para nós. Algumas pessoas encontravam nas horas de viagem o tempo perfeito para se dedicarem a atividades como a leitura e a escrita e, você pode nem mesmo acreditar, alguns poetas famosos tiveram como inspiração as viagens sob quatro rodas. Conheça melhor essa interessante história que desvendamos para você. Ter que lidar com essas deficiências serviu para inspirar toda uma geração de escritores que aproveitaram a situação e ajudaram a pintar um retrato verbal da América do século XX.

Viagens de ônibus que inspiraram gerações

Ônibus e poesia nos Estados Unidos

O escritor e poeta Allen Ginsberg, em “No quarto de Bagagem em Greyhound”, é um exemplo maravilhoso que faz parte desse contexto . O poeta conseguiu capturar a vibração e a atmosfera em um terminal rodoviário, nos Estados Unidos, enquanto esperava por seu ônibus para Los Angeles. O trecho a seguir mostra a primeira estrofe do poema, na qual Ginsberg pondera sua existência, examina temas de justiça social e fornece um vislumbre íntimo do país nos anos 50:

“Nas profundezas do Terminal Greyhound
Sentado, dumbly, bagagem, caminhão, olhar, céu
Esperando o Los Angeles Express partir
Preocupação com a eternidade sobre o telhado da
Noite no centro da cidade.
Olhando através dos meus óculos, percebi que tremia
Esses pensamentos não eram a eternidade, nem a pobreza
De nossas vidas, funcionários de bagagens irritáveis,
Nem os milhões de parentes que choram em torno do
Ônibus que acenam em adeus,
Nem outros milhões de pobres correndo de
Cidade a cidade para ver seus entes queridos,
Nem um índio morto de susto conversando com um policial enorme
Pela máquina de coque,

(…)

O relógio registrando 12:15 a.m.
9 de maio de 1956. “

Se você se interessou, o restante do poema pode ser encontrado gratuitamente na internet.

A poesia no ônibus no século 21

As longas distâncias fazem da América um continente especial para se fazer “poesia nos ônibus”. No entanto, um concorrente de peso é o Reino Unido, que também tem a sua quota de “poetas de ônibus”. Figura dente eles Peter Riley, nascido em  Manchester, o famoso poeta britânico contemporâneo se destacou como professor, conferencista e motorista de ônibus, entre outras coisas.

O célebre diretor de cinema cult, Jim Jarmusch, estreou recentemente “Paterson” – um filme que conta a história de um motorista de ônibus de Paterson, Nova Jersey (talvez não coincidentemente também a cidade natal dos poetas Allen Ginsberg e William Carlos Williams, autor do poema “Paterson” ) cujo sonho é tornar-se um renomado poeta.

A cidade de Seattle montou uma iniciativa para promover a poesia no ônibus. O programa, fundado em 1992, foi reiniciado recentemente e recebe anualmente poemas que são publicadas no website do programa, chamado poetryonbuses.org, garantindo assim a continuidade da poesia feita dentro dos ônibus durante o século XXI.

Por sua vez, o jornal britânico ‘The Guardian’ está comemorando este fato e desafiou seus leitores a fazerem um poema-post no ônibus a cada mês. Você é incentivado afixar seus próprios “poemas de ônibus” na seção “comentários” e, assim, dá ao mundo a oportunidade de conhecer seus dotes como escritos.

Será que o conforto moderno acabou com a poesia de ônibus?

A viagem de ônibus reinventou-se e embarcar em um ônibus hoje em dia não é o mesmo como era nos anos 50. Graças às inúmeras possibilidades de conforto e entretenimento à bordo, os ônibus são agora, indiscutivelmente, um dos meios de transporte mais confortáveis. Hoje, nos preocupamos em aproveitar nosso tempo “sabiamente” verificando e-mails, facebook e twitter. Certamente é uma vantagem a conexão wi-fi durante as viagens ou, de outra forma, as poltronas mais largas e com mais espaço para as pernas, mas a poesia nunca pode ser deixada de lado. Por isso, assim como o The Guardian, convidamos você a nos enviar seus poemas de ônibus na seção de comentários. Estamos ansiosos para publicarmos seus escritos!